
Ontem levei a Eliza, pela primeira vez, no pronto socorro no hospital South Health Campus, em Calgary. Ela estava com virose.
Não curto ambiente de hospital e evito ao máximo. Mas João ficou assustado quando a viu sair do banheiro depois de vomitar. Estava pálida e muito mole. Nunca a vimos assim. Febril o dia todo, me preocupei também por desidratar tanto. Topei.
Chego no estacionamento e ela vomita, tento correr para o banheiro do Hospital, mas na entrada ja tem mil e uma perguntas sobre o Covid e todo procedimento. Troco ela ali mesmo. Tiro a roupa vomitada e coloco outra que estava na mochila. Depois ficamos na fila para triagem, em pé, criança no colo, gente vomitando em potinhos de papelão que eles oferecem. Chegamos na triagem, enfermeira bacana com Eliza, sabe se comunicar com criança, Eliza topou tudo. Colaram uma fita no dedo com um fio que pluga na maquina e eles veem batimentos cardíacos e outras coisas que não entendo.
Fomos sentar nas cadeiras de espera. Olho ao redor e o que vejo?
Mães.
Mães com suas crias de todos os tamanhos. Mãe com cria na barriga e outra no colo inquieta. Vi mãe com a bebê cheia de manchinhas vermelhas pelo corpo quando passou na triagem. Vi mae segurando o pote de papelão para o filho adolescente (gigante) vomitar. Vi mãe com o braço esticado para o filho, jovem e gigante também, apoiar a cabeça e dormir sentado na cadeira de espera. Vi mae trabalhando de enfermeira de madrugada. Vi os olhares tristes dessas mães.
Quando fomos ao espaço onde o medico nos atende, vi vários quartinhos para crianças, e vi mae dando comida pra cria, vi mães esperando ao lado da cama. Vi mae segurando o bebe para o medico examinar. Vi mãe de todos os tipos. E lembrei que uma vez fui internada com pedra nos rins, tinha mais de 25, e quando a dor vinha forte eu chamava minha mãe.
Me vi mãe em um hospital com a cria fragilizada. Me vi mãe aliviada quando medico disse que estava tudo bem. Era só seguir hidratando em casa. Mas pensei em outras mães que precisam ficar ali, esperando a recuperação e tantas outras que acabam de parir e ficam ali, esperando a cria. Pensei que não existe algo mais doloroso do que ver a cria assim. Não existe decoração fofa de bichinhos da floresta no ambiente da pediatria que alivie essa dor.
Vi maes.
Me vi mae.
Me vejo nessa existência de profundo amor e cuidado por outro ser pra sempre.